Perturbações de Eliminação: Enurese e Encoprese







A enurese pode definir-se como o ato de urinar na cama e nas roupas após os três anos de idade, quer durante o sono quer em vigília, sendo considerado por Ajuriaguerra (1980) o seu carácter involuntário (Oliveira, 1994). O autor atrás referido, considera a enurese como a falta de controlo na emissão da urina, aparentemente involuntária, que aparece ou reaparece após a idade em que a criança deveria ter adquirido a maturidade fisiológica da bexiga (Oliveira, 1994; Marcelli, 2005). Esta, geralmente, surge após os três anos de idade da criança (Oliveira, 1994). Cordovil (1983) define a enurese como a falta de controlo da micção após os três ou quatro anos de idade. Este autor afirma que a criança que desenvolve enurese não deve deter nenhum comprometimento orgânico capaz de impedi-la de controlar o esfíncter vesical, sendo a enurese involuntária, inconsciente e sem a sensação da necessidade de urinar (Oliveira, 1994).



No que se refere às formas de enurese, deve-se ter em conta tanto o ritmo nictemérico quanto a faixa etária da criança quando surge a problemática. Quanto ao ritmo, este é nomeado como noturno, diurno e noturno/diurno (Oliveira, 1994). No que diz respeito à faixa etária da criança relativamente ao surgimento da enurese, esta é classificada em primária e secundária (Oliveira, 1994). Nomeia-se enurese primária quando a criança nunca controlou a micção; é secundária quando ela aparece ou reaparece após um período mais ou menos longo de controlo de esfíncteres (Oliveira, 1994).



Segundo Kaplan & Sadock (1984), a enurese surge duas vezes mais no sexo masculino do que no sexo feminino. Vários autores referem que a enurese tem base hereditária (Oliveira, 1994).



Dado que a criança enurética nem sempre pode controlar o esfíncter vesical após os 14 anos de idade, independentemente de correções cirúrgicas de alterações anatómicas, pode-se afirmar que esta problemática tem forte componente psicológico associado (Oliveira, 1994). Assim, o fato da criança não controlar a micção após certa idade pode ser a manifestação de perturbações psicológicas profundas. Estas evidenciam-se através de sentimentos de desconfiança e desamparo por parte dos familiares, o que pode provocar dificuldades nas relações interpessoais futuras (Oliveira, 1994). Assim alguns autores, referem que esta patologia pode estar ligada a uma perturbação da dinâmica familiar. Para Ajuriaguerra (1980), a enurese pode ser a expressão de um conflito profundo que irá impedir a organização afetiva e relacional da criança (Oliveira, 1994).



Murahovschi (1983) afirma que a ansiedade no seio familiar e o treino higiénico inadequado podem contribuir para acentuar o problema da enurese (Oliveira, 1994).



Culturalmente, os pais destas crianças não relacionam este sintoma com os distúrbios de humor nos seus filhos (Oliveira, 1994). Daí a necessidade de os pais serem sempre sensibilizados para uma possível depressão da criança e da influência que eles próprios possam exercer na emergência e na manutenção da enurese (Oliveira, 1994).



Alguns autores concluíram que os fatores emocionais são a principal causa da enurese (Oliveira, 1994).



Segundo Ackerman (1986), a interação dos membros da família nos seus respetivos papéis vai determinar a qualidade da estabilidade das interações familiares (Oliveira, 1994). A conquista da estabilidade é influenciada pela capacidade de cada um dos seus membros competirem e controlarem os seus conflitos internos e as suas relações. Se estes conflitos não forem controlados, então, podem surgir doenças no seio familiar e o paciente identificado se evidência, sendo este membro aquele com mais carência de atenção e afeto (Oliveira, 1994). O paciente identificado emerge muitas vezes de famílias que não geram saúde emocional nos seus membros, sempre buscando ajuda e ajudando a diminuir conflitos relacionais, em que consequentemente é para ele que são dirigidas parte das agressões (Oliveira, 1994). Assim, o sintoma do paciente identificado não é mais do que uma consequência das dificuldades interacionais dentro do seu lar (Oliveira, 1994).



Muitas vezes, estas crianças objetivam a enurese para receberem um pouco mais de afeto e atenção dos seus pais (Oliveira, 1994). Na falta parcial de afeto, a criança com enurese pode desenvolver determinado sintoma, o qual muda o seu comportamento para obter assim ganhos secundários (Oliveira, 1994). Deste modo, a enurese é um exemplo de distúrbio psicológico e somático (Oliveira, 1994).



No trabalho psicoterapêutico deve-se ajudar a criança com enurese e os membros da sua família a suprir as necessidades afetivas ainda não satisfeitas (Oliveira, 1994).



A encoprese é considerada uma defeção nas cuecas, em crianças, entre os 2 e 3 anos, que já ultrapassaram a idade de aquisição da higiene (Marcelli, 2005). A encoprese divide-se em primária e secundária, na primeira não há história de contenção numa fase anterior, na segunda, surge após uma fase mais ou menos longa de contenção (Marcelli, 2005). Segundo a literatura, esta patologia surge em maior percentagem no sexo masculino (Marcelli, 2005). Quanto à idade, surge geralmente entre os 7 e os 8 anos (Marcelli, 2005).



A encoprese e a enurese podem ser concomitantes ou surgir em períodos alternados (Marcelli, 2005).



Neste sentido, a Escola de Afetos fornece aos seus clientes consultas de Psicologia Clínica para Crianças e Adolescentes.




Texto escrito por Carolina Violas, Psicóloga Clínica

 



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