Numa semana em que surgiu a notícia que um treinador dos melhores clubes de futebol do mundo recomendou a um dos seus atletas o acompanhamento psicológico para melhorar o seu rendimento desportivo, iremos de seguida refletir a influência dos pensamentos negativos no rendimento desportivo e a importância do psicólogo para ajudar os atletas nesta problemática.
O negativismo desencadeia pensamentos inapropriados, irracionais e contra-produtivos (Loehr, 1986). Estes canalizam a atenção para pensamentos erróneos e de dúvidas, estando estes ligados a baixos níveis de rendimento (Loehr, 1986).
Hoje em dia, a competição desportiva requer que os atletas façam uma avaliação sistemática do seu valor (Lázaro, et al., s.d.). Os atletas antes, durante e após a competição desenvolvem vários pensamentos (Lázaro, et al., s.d.). Estes pensamentos são de grande importância na medida em que não influenciam apenas a sua prestação (pensamentos antes e durante a prestação), mas também a forma como vão enfrentar o próximo treino ou competição (pensamentos pós-competitivos), tendo sempre em linha de conta o significado que concederam ao resultado presente da competição (Lázaro, et al., s.d.).
Saber controlar emoções negativas como o medo, a fúria, a frustração, o ressentimento e a raiva é preponderante para o sucesso desportivo (Fleury, 1998; Loehr, 1986). Os pensamentos negativos ou elevados níveis de energia negativa provocam tensão nos músculos, alteram o estado mental e a visão resultando num inapropriado tipo de foco mental (Loehr, 1986). Estar relaxado e concentrado é uma forma do atleta manter a energia negativa em valores mínimos (Loehr, 1986).
Os nossos pensamentos estão interligados com as nossas reações fisiológicas, as nossas expectativas e os nossos comportamentos (Cruz & Viana, 1996b). Torna-se fundamental saber até que ponto um atleta se condiciona a si próprio por acreditar que aquilo que pensa constitui a realidade, isto é, numa competição, não é a imagem de ser avaliado negativamente por milhões de espectadores que poderá influenciar as capacidades de um atleta e levá-lo a cometer o erro de falhar, mas sim o facto do atleta acreditar que todos os espectadores o estão a fazer (Cruz & Viana, 1996b).
Os pensamentos distorcidos e erróneos dos atletas com baixa autoconfiança levam a que estes desenvolvam sentimentos negativos e tenham uma execução deficiente (Lázaro, et al., s.d.).
Os pensamentos negativos estão interligados com as teorias de atribuição e a autoconfiança (Lázaro, et al., s.d.). Quanto menor a autoconfiança, mais negativamente os atletas enfrentarão as situações em competição (Lázaro, et al., s.d.). Os atletas com baixa autoconfiança apresentam muitas vezes como consequência, um mau rendimento, pois muitas vezes o seu foco de atenção está centrado em estímulos irrelevantes à sua tarefa (Lázaro, et al., s.d.). Nestas situações, o atleta poderá desenvolver uma imagem negativa de si próprio reveladora de insegurança e de uma má perceção de eficácia das suas capacidades desportivas (Lázaro, et al., s.d.).
Após uma competição, o atleta irá percecionar a sua prestação, atribuindo-lhe uma causa para a justificar. Quando um atleta tem uma boa prestação numa competição, a sua autoeficácia aumenta e este, como consequência, pensará de forma positiva (McAuley & Blissmer, 2002). Quando, pelo contrário, o atleta tem uma prestação de baixo rendimento, poderá reagir de forma negativa, diminuindo a autoeficácia (McAuley & Blissmer, 2002). O atleta pode desenvolver uma angústia em relação à próxima atuação e assim podem surgir-lhe pensamentos relativos à preocupação com a possibilidade de uma outra má atuação (Harris & Harris, 1987).
Os atletas ansiosos, muitas vezes, focalizam-se em todas as coisas que podem vir a correr mal, nas incapacidades e fraquezas que poderão surgir na competição e nas consequências de uma performance inferior (Frichknecht, 1990). Pode-se esperar que o mais provável é que a performance seja tão má como o atleta receou (Frichknecht, 1990).
Se um atleta evitar que a sua atenção se centre em pensamentos negativos, não sentirá tanta ansiedade e terá maior probabilidade de executar a tarefa no seu nível máximo (Cruz & Viana, 1996c).
Vários investigadores propõem algumas estratégias para combater os pensamentos negativos que “pairam” na mente dos atletas (Lázaro, et al., s.d.). Uma das estratégias passa pela paragem do pensamento que consiste na substituição dos pensamentos negativos pelos positivos ou pela canalização desses pensamentos para aspetos mais importantes da tarefa a realizar (Lázaro, et al., s.d.). Esta estratégia poderá ser associada ao sistema de reforços positivos, aumentando os níveis de motivação para uma boa prestação (Lázaro, et al., s.d.). Nideffer (1986) salienta que o negativismo surge nos atletas porque estes têm demasiado tempo para pensar. Quebrar a rotina dos seus pensamentos pode levar a que os atletas desenvolvam pensamentos positivos acerca da tarefa que estão a executar, conseguindo desta forma relaxar (Nideffer, 1986.).
A reestruturação cognitiva permite ajudar o atleta a reconhecer os seus pensamentos irracionais e ilógicos e, tendo em conta as instruções da paragem do pensamento, substituir ou modificar os pensamentos erróneos até se tornarem os mais adequados à situação (Lázaro, et al., s.d.). Quando um atleta apresenta sinais de medo ou tensão quanto a uma competição, deverá desenvolver para si um diálogo interno (self-talk) positivo, não tentando esconder as suas emoções, mas assumir o sentimento para que mais tarde, possa encarar esta situação como normal, motivando-se e focalizando a sua atenção para a tarefa (Lázaro, et al., s.d.). Antes de uma competição, se o atleta sentir-se ansioso não deve tentar focar a sua atenção procurando relaxar, pois o mais certo é não conseguir, mas aceitar este facto como normal e que não irá provocar prejuízos na sua prestação, procurando apenas focar a sua atenção nos aspetos relevantes da tarefa (Lázaro, et al., s.d.).
O mais importante é que o atleta seja capaz de identificar e substituir os pensamentos negativos por pensamentos alternativos. O primeiro passo é, então, o atleta estar consciente dos seus pensamentos, o que não é uma tarefa fácil, uma vez que a maioria das pessoas não está consciente dos seus pensamentos e muito menos do impacto que estes têm sobre os seus sentimentos e conduta (Williams, 1991).
Em relação aos pensamentos negativos, devemos ter em conta o papel do psicólogo que deverá ter uma influência junto dos atletas, não no sentido de evitar que eles pensem, mas de os ensinar a reconhecer e a controlar esses mesmos pensamentos, quer sejam positivos (e que deverão ser mantidos sem excessos), quer sejam negativos (que deverão ser substituídos ou reduzidos) (Lázaro, et al., s.d.). Outra estratégia a ser considerada é a paragem do pensamento, em que os pensamentos devem ser substituídos por pensamentos positivos ou o atleta deve focar-se em aspetos importantes da sua prestação.
Neste sentido, a Escola de Afetos fornece aos atletas e clubes desportivos avaliação psicológica, apoio psicológico e intervenção psicológica em grupo.
Texto escrito por Carolina Violas, Psicóloga Clínica, Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde com uma dissertação em Psicologia do Desporto