Perturbações do Comportamento Alimentar




As perturbações do comportamento alimentar, nomeadamente, anorexia e bulimia, são transtornos que criam quadros dramáticos e potencialmente fatais (Cordás & Segal, 1994).


 A anorexia nervosa é um transtorno que se caracteriza por uma rejeição à manutenção do peso normal de acordo com a idade e altura, limitações dietéticas auto-impostas, com um padrão alimentar bizarro e acentuada perda de peso, induzida e mantida pelo paciente, associada a um medo intenso de engordar (Cordás & Segal, 1994; Domínguez & Rodríguez, 2005).


A imagem corporal do paciente está gravemente perturbada, sendo este o aspecto central deste transtorno: a pessoa afirma-se gorda, mesmo contra as evidências médicas e os argumentos familiares. Sendo a amenorreia uma característica invariável (Cordás & Segal, 1994).


O transtorno ocorre tipicamente em raparigas, pouco depois da puberdade ou na adolescência, sendo raro em rapazes, como foi observado nas consultas (Cordás & Segal, 1994).


 A história inicia-se com um jejum progressivo, inicialmente voltado a hidratos de carbono e, depois, estendendo-se a vários tipos de alimentos. Associado a esta problemática, está presente um aumento compulsivo de exercícios físicos (Cordás & Segal, 1994). Às vezes são utilizadas outras estratégias para perder peso, como o uso de laxantes, diuréticos ou vómitos voluntários (Cordás & Segal, 1994). As alterações comportamentais observadas são: afastamento social, irritabilidade e depressão. O aproveitamento académico muitas vezes não diminui, sendo, no entanto, necessário mais horas de estudo para a manutenção do desempenho, o que por sua vez, leva a uma redução progressiva das horas de sono (Cordás & Segal, 1994). Apesar das perdas intensas, o paciente tende a negar que algo está errado e dirá que os outros estão a exagerar (Cordás & Segal, 1994).


Relativamente à Anorexia Nervosa que ocorre antes da menarca, a perda de peso pode estar ausente, porém o paciente não consegue atingir o peso esperado para o estádio de desenvolvimento em questão (Cordás & Segal, 1994).


 Quanto ao diagnóstico diferencial, os transtornos que devem ser afastados primeiramente são a depressão na infância e na adolescência, as doenças gastrointestinais que levam a má absorção e as fobias alimentares (Cordás & Segal, 1994). Devemos ter em conta também, que podem estar presentes padrões bizarros de alimentação na esquizofrenia, que pode iniciar-se no final da adolescência, em distúrbios conversivos e em estados hipomaníacos (Cordás & Segal, 1994). Outros distúrbios clínicos que podem simular a anorexia nervosa são os distúrbios neurológicos (como tumores cerebrais) ou distúrbios hormonais (disfunção da hipófise anterior, hiperparatireoidismo, diabetes mellitus juvenil e doença adrenal) (Cordás & Segal, 1994).


Assim, no tratamento da anorexia nervosa deve haver um componente educacional, um componente de correção nutricional e um componente psicoterapêutico (Cordás & Segal, 1994).


No que diz respeito à Bulimia Nervosa, esta foi inicialmente relacionada intimamente com a Anorexia Nervosa, porém estes pacientes apresentam, geralmente, peso normal ou com pequena variação (Cordás & Segal, 1994). A principal característica clínica destes pacientes é a ingestão compulsiva de alimentos (episódios ou acessos bulímicos) (Cordás & Segal, 1994). Estes acessos bulímicos são seguidos de uma sensação de culpa, depressão pela perda de controlo, associada a vómitos provocados, como meio de controlo de peso (Cordás & Segal, 1994). O uso de diuréticos, laxantes, consumo de medicamentos supressores do apetite, períodos de jejum e actividade física excessiva podem estar presentes (Cordás & Segal, 1994; Domínguez & Rodríguez, 2005).


 A grande maioria dos pacientes é do sexo feminino, sendo a idade de aparecimento desta patologia entre os 14 e os 20 anos, mais frequentemente aos 18 anos (Cordás & Segal, 1994).


A gravidade desta problemática depende da frequência dos episódios de vómitos e do uso de laxantes e diuréticos, que podem causar graves desequilíbrios metabólicos (Cordás & Segal, 1994).


 Além da descrição dos sintomas realizada anteriormente, o paciente apresenta a face arredondada, inchada, devido ao aumento das parótidas, em que a retenção hídrica reforça este aspecto (Cordás & Segal, 1994).


A pele propende a ser seca e marcada com cortes e abrasões, nomeadamente nas articulações das mãos (sinal de Russel), devido aos traumas repetidos desta região contra os dentes, no acto de provocar o vómito (Cordás & Segal, 1994). Os dentes têm um perfil em forma de meia-lua, devido à acção erosiva dos vómitos (Cordás & Segal, 1994). Uma disforia crónica (caracterizada por insatisfação pessoal não relacionada a estímulos do meio) e labilidade do humor podem ser salientes (Cordás & Segal, 1994).

 A ingestão de alimentos pode alcançar até 15 mil calorias, no entanto, geralmente oscila entre três e cinco mil calorias (Cordás & Segal, 1994).


A preocupação com o peso não se expressa apenas no que já foi descrito, mas torna-se tão abrangente que passa a constituir o tema principal ou único das conversas dos pacientes (Cordás & Segal, 1994).

No que diz respeito ao diagnóstico diferencial, devemos ter em conta que a bulimia como sintoma isolado pode estar presente em subtipos de doença afectiva, esquizofrenia, em alguns diabéticos juvenis, crianças e adolescentes obesos com episódios nocturnos de voracidade, usuários de psicofármacos (particularmente antidepressivos) e deficientes mentais (Cordás & Segal, 1994).
 Relativamente à génese da Bulimia Nervosa, a literatura refere que poderá surgir por conflitos familiares, história de abuso sexual na infância, questionamento sobre desenvolvimento da feminilidade e uma depressão subjacente (Cordás & Segal, 1994). Como características psicológicas e de personalidade temos a dificuldade no controlo de impulsos, depressão crónica, sentimentos de culpa exagerados, intolerância à frustração e ansiedade recorrente; porém, o denominador principal é o facto de que os episódios bulímicos geralmente ocorrem como resposta a um jejum, e os vómitos posteriores ocorrem devido ao desejo de não se ganhar peso (Cordás & Segal, 1994).


Quanto ao tratamento, este deve ser similar ao da Anorexia Nervosa. A Psicoterapia de apoio está indicada (Cordás & Segal, 1994).
 


Neste sentido, a Escola de Afetos fornece aos seus clientes Psicoterapia.



Texto escrito por Carolina Violas, Psicóloga Clínica