A Depressão nas Crianças e Adolescentes



Existe depressão na infância?

Sim, existe. E quanto mais precoce, mais difícil o diagnóstico, mas não menos importante.

Somente a partir do século XX, é que o diagnóstico de depressão na infância passou a ser aceite por especialistas. Anteriormente acreditava-se que por manifestarem uma imaturidade de estrutura de personalidade, as crianças e adolescentes não teriam estruturas mentais capazes de desenvolver depressão.

A depressão infantil ocorre em 2 a 4 % das crianças com menos de oito anos de idade enquanto que nos adolescentes torna-se mais comum após a puberdade, aumentando para 4 a 8 % dos adolescentes.

Nos adolescentes, a depressão é mais comum nas raparigas. O número de crianças e adolescentes que são diagnosticados com depressão está a aumentar, isto pode estar relacionado com os avanços na área da saúde mental, visto que os sintomas são reconhecidos mais cedo, ou pode ser mesmo que a doença, realmente esteja a ocorrer mais cedo, relativamente as gerações anteriores.

A depressão nas crianças e adolescentes nem sempre se manifesta da mesma forma. Em vez de ficarem tristes e debilitados, um jovem deprimido pode ficar agitado e irritável, ter sintomas físicos como dores de cabeça e de estômago. Uma das manifestações pode passar pelo comportamento irritável com amigos e familiares sobre as mais pequenas coisas.

As crianças e adolescentes que ficam deprimidas têm frequentemente tido experiências negativas. Há alguma evidência de que uma experiência negativa, por exemplo, perda de um pai ou ser abusado quando criança, aumenta o risco de depressão mais tarde. Acontecimentos de vida recentes negativos, frequentemente, precipitam episódios de depressão como amizades mal sucedidas, bullying e deceções são causas comuns para a depressão em crianças e adolescentes. Embora não haja evidência clara de que as dificuldades familiares possam originar depressão, quando existem muitos conflitos familiares, isto pode interferir com a recuperação do adolescente.

A partir da puberdade, a depressão é mais comum nas meninas, devido a razões biológicas (por exemplo, alterações hormonais), psicológicas e sociais. As raparigas adolescentes têm duas vezes mais probabilidade de sofrer de depressão do que os rapazes.

A depressão pode ser uma resposta temporária a muitas situações e tensões.

As causas mais comuns da depressão nos adolescentes é devido a:

• O processo normal de maturação e o stress associado

• A influência das hormonas sexuais

• Conflitos de independência com os pais



Também pode ser uma reação a um evento perturbador, como:

• A morte de um amigo ou parente

• Bullying

• Um rompimento com um namorado ou namorada

• Fracasso na escola


Adolescentes que têm baixa autoestima, são muito autocríticos, e que sentem pouco controlo sobre os acontecimentos negativos, estão, especialmente, em risco de ficar deprimidos quando ocorrerem situações de stress.


Existem situações negativas e de stress, sobre as quais uma criança ou adolescente sente pouco controlo, que podem causar depressão tais como:

· Intimidação ou assédio

· Abuso físico ou psicológico

· Abandono

· Maus tratos

· Bullying ou rejeição de pares

· Depressão num dos pais

· Educação muito rígida

· Mudança de escola

· Doença crónica

· Dificuldades de aprendizagem

· Habilidades sociais ‘pobres’

· Nascimento de um irmão

· Discussões frequentes entre os pais

· Perda de um pai / mãe por morte

· Divórcio


É importante ressaltar que é possível que crianças que passem por situações adversas não deprimam, pois não apresentam suscetibilidade genética.


Muitos adolescentes com depressão também podem ter outras psicopatologias tais como:

• Perturbações de ansiedade

• Défice de atenção e hiperatividade

• Transtorno bipolar

• Distúrbios alimentares (bulimia e anorexia)


Em geral, a depressão pode falsear a forma como os adolescentes se vêm a si mesmos e às suas vidas, bem como as pessoas ao seu redor. Os adolescentes com depressão costumam ver tudo de uma forma negativa, são incapazes de imaginar que um problema ou situação pode ser resolvido de uma forma positiva.

Os transtornos depressivos em crianças e adolescentes podem apresentar características clínicas variáveis de acordo com a capacidade de a criança expressar os seus sentimentos, o que, usualmente, associa-se à idade.

A maioria das crianças antes dos cinco anos pode não fazer uso adequado da linguagem para caracterizar os sintomas. Devemos, então, estar atentos aos sinais não verbais. Esses sinais são a expressão facial, ou seja, a criança quieta que parece triste, sem brilho, embora às vezes não consiga reconhecer ou referir tristeza, podem sim estarem deprimidas. Outro sinal observável é relacionado com a postura do corpo. Uma postura sempre encolhida, cabisbaixa pode ser notada. Dores constantes no corpo, principalmente na barriga ou na cabeça, insegurança, ansiedade de separação (medo irracional de separação das figuras parentais), podem ser sintomas depressivos.

As crianças em idade escolar, entre os 6 e os 11 anos, devido ao desenvolvimento da linguagem, os sentimentos são expressos com mais clareza. Podem relatar melhor sentimentos de tristeza e mesmo de ideação suicida. Porém, dores no corpo que levam a faltas escolares frequentes podem continuar presentes nesta faixa etária. Nesta fase pode-se observar também a queda no rendimento escolar, geralmente, secundária a dificuldades de concentração, e pode haver alteração de comportamento, como brigas frequentes com colegas ou isolamento social, alterações bruscas de humor e mesmo recusa em ir para a escola.

Outros sintomas prováveis são as alterações de sono, às vezes de apetite, que podem levar a criança a não adquirir o peso esperado, ou mesmo perder peso. Dentro do desinteresse por atividades, é importante ressaltar que às vezes, a criança continua brincando, mas há uma incapacidade de sentir prazer com brincadeiras que antes eram para ela prazerosas, parecem sem energia, como que precisassem de um esforço e tempo muito maior do que antes para acabarem os deveres. A fala pode adquirir um tom monótono, sem prosódia. Todos esse sintomas anteriormente descritos podem apresentar-se piores em algum período do dia, usualmente, pela manhã.


Os sintomas de depressão nas crianças e adolescentes em geral são os seguintes:

· Agitação, inquietação e irritabilidade

· Agressividade

· Apatia

· Choro frequente

· Baixa autoestima

· Isolamento

· Sentimentos de culpa

· Dores e mal-estar sem causa física

· Baixo rendimento escolar

· Alterações do apetite (em geral, perda de apetite, mas, por vezes, um aumento considerado)

· Dificuldade de concentração

· Dificuldades em tomar decisões

· Episódios de perda de memória

· Fadiga ou perda de energia

· Sentimentos de inutilidade, desespero, tristeza ou ódio a si mesmos

· Perda de interesse ou prazer em atividades que antes eram divertidas

· Pensam ou falam sobre suicídio ou morte

· Dificuldade em dormir, sono excessivo, ou sonolência diurna


É essencial que pais e professores estejam atentos para estas mudanças de comportamento da criança para realização de um diagnóstico precoce.

O diagnóstico e o tratamento da depressão são feitos por um psicólogo. Quando os pais, familiares ou professores perceberem alguma alteração de comportamento na criança devem levá-la ao psicólogo. Esse irá fazer uma avaliação psicológica para compreender se a criança está deprimida, qual o grau dessa depressão e qual o melhor tratamento a realizar. Na maioria dos casos, a psicoterapia e o apoio dos pais é suficiente para a criança, no entanto em alguns casos é necessário psicofármacos prescritos por um pedopsiquiatra.


Neste sentido, a Escola de Afetos fornece aos seus clientes consultas de Psicologia Clínica para Crianças e Adolescentes.



Texto escrito por Carolina Violas, Psicóloga Clínica

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