Autoconfiança na Prática Desportiva



Henry Ford dizia “se acreditares que consegues ou se acreditares que não consegues vais acertar”. Se pensarmos que não somos capazes de realizar uma determinada tarefa com sucesso provavelmente não seremos capazes de fazê-lo (Marín, 2009). Aqui reside a importância da autoconfiança no desporto.

Alexandre Dumas referiu: “uma pessoa que duvida de si própria é como um homem que se alista no exército do inimigo e aponta as armas contra si próprio. Ele transforma o seu fracasso numa certeza, ao ser ele próprio a primeira pessoa a convencer-se desse fracasso” (Cruz & Viana, 1996b). A partir do atrás referido, parece consensual a importância da autoconfiança como condição necessária para se competir com êxito e sucesso (Cruz & Viana, 1996b; Ferreira, 2008).

A autoconfiança é uma das competências psicológicas essenciais na competição desportiva para obter sucesso e obter altas performances (sendo a sua importância reconhecida por atletas e treinadores), tal como é importante na prevenção de lesões, ansiedade e stress (Cruz & Viana, 1996b; Marín, 2009). Segundo Loehr (1986), a autoconfiança é uma das competências psicológicas com maior valor preditor de sucesso em competições desportivas. A autoconfiança passa pela convicção do atleta nas suas capacidades, a nível técnico, físico e psicológico para ser bem sucedido no desporto (Viana, 2000).  

Esta competência é ainda um dos elementos relacionados com a segurança para agir em situações novas (Pujals & Vieira, 2002). Assim sendo, a autoconfiança influencia o sujeito nos atos mais simples e banais até às opções mais relevantes da sua própria vida (Pujals & Vieira, 2002). Desta forma, há relação íntima entre a autoconfiança e o rendimento desportivo (Pujals & Vieira, 2002).

Os agentes desportivos geralmente percecionam a autoconfiança como a expectativa de ser bem sucedido, isto é, pelo pensamento de que se irá ganhar (Vasconcelos-Raposo 1994b). A autoconfiança não é o que se pretende fazer, mas o que realisticamente tem-se consciência que se pode fazer (Vasconcelos-Raposo, 1994b). No entanto, cada atleta apenas pode controlar uma parte do seu sucesso, não a totalidade, uma vez que apenas pode controlar a sua performance e não a performance dos seus colegas (Vasconcelos-Raposo 1994b).

O atleta com autoconfiança é aquele que está seguro de si e da sua competência real, não demonstra preocupação com o seu rendimento, não revela indecisão, nem se perturba em situações inesperadas, aceita as críticas do treinador e revela a sua opinião aos colegas sem evidenciar problemas (Lázaro, et al., s.d.). 

A importância desta competência psicológica no rendimento dos atletas é descrita frequentemente por todos aqueles que estão envolvidos na competição desportiva (Cruz & Viana, 1996b). Os jogadores com sucesso desportivo parecem revelar elevados níveis de confiança nas suas capacidades (Cruz & Viana, 1996b). Os atletas com falta de confiança em si próprios ou baixas expectativas para a obtenção de determinada marca ou resultado vêm o seu rendimento desportivo afetado (Cruz & Viana, 1996b).

Martens (1987) defende que a autoconfiança no desporto deve ser vista como um “continuum” que varia entre a falta de confiança (pouca confiança nas capacidades pessoais) e a confiança excessiva (demasiada autoconfiança). Para este autor, o nível ótimo de autoconfiança encontra-se entre estes dois extremos; níveis extremamente baixos ou excessivamente elevados de autoconfiança prejudicam o rendimento (Martins, 1987).

Muitos atletas percecionam a autoconfiança como algo instável e passageiro (Lázaro, et al., s.d.). Essa instabilidade que referem deve-se às fontes em que a autoconfiança é baseada (Vealey, et al., 1998).

A autoconfiança relaciona-se de uma forma dinâmica com a motivação, com as aprendizagens e as experiências de realização, com a concentração, com emoções positivas, com os relacionamentos interpessoais, com a satisfação pessoal, com o estabelecimento de metas desafiantes, etc (Marín, 2009; Viana, 2000; Weinberg & Gould, 2007).

A falta de confiança nos atletas é muitas vezes manifestada através de expectativas negativas e dúvidas quanto à sua prestação. Estas originam estados de ansiedade, dificuldades de atenção e concentração, tal como incerteza quanto aos motivos de participação (Viana, 2000).

Quando os níveis de autoconfiança são elevados, a atenção permanece dirigida para pontos relevantes da tarefa. Ao contrário, quando são baixos, o processo de recuperação da atenção é retardado e o foco atencional dirige-se para questões internas, o que influencia negativamente a performance (Bodas, et al., 2007).

No entanto, o excesso de autoconfiança é tão prejudicial como a falta desta (Marín, 2009). Quando um atleta apresenta níveis elevados de autoconfiança, pode pensar que não precisa de se esforçar tanto para conseguir uma boa performance, o que o pode levar ao insucesso (Marín, 2009). Este excesso de autoconfiança pode provocar alguns problemas, levando a que este não admita erros, tenha uma perceção distorcida dele próprio, pode criar conflitos entre os colegas e mesmo com o treinador (Marín, 2009). 

É importante, antes de intervir no sentido de aumentar os níveis de autoconfiança de um atleta, procurar as fontes de que este se baseia (Vealey, et al., 1998). Vealey et al. (1998) no seu estudo, chegaram a 3 pressupostos fundamentais para a compreensão da autoconfiança:

- Os atletas aumentam a confiança a partir da sua realização, estando incluída a mestria e a demonstração de habilidades;

- Os atletas aumentam a confiança a partir da autorregulação, estando incluída a preparação física e mental e autoperceção física;

- Os atletas aumentam a confiança através de um clima positivo, em que coexiste apoio social, liderança do treinador, experiências vicariantes, conforto ambiental e favorecimento situacional.

As fontes de autoconfiança mais importantes para os atletas, no estudo de Vealey et al. (1998), foram o apoio social e a demonstração de habilidades. O facto de atingir os seus objetivos faz com que um atleta seja autoconfiante (Vealey, et al., 1998). Este mecanismo leva a que o atleta autorregule os seus pensamentos e comportamentos dentro de um clima de treino desafiador e motivador (Vealey et al., 1998). Ryska (2002, cit. in Lázaro, et al., s.d.) refere que os atletas com maiores níveis de autoconfiança se aplicam mais nos treinos, demonstrando uma maior persistência e capacidade de aperfeiçoamento.

Os atletas de sucesso são autoconfiantes. A sua autoconfiança desenvolve-se com o tempo e, muitas vezes, é o resultado de pensamentos positivos e de experiências de êxito (Williams, 1991). A melhoria da destreza física é uma forma de aumentar a autoconfiança (Williams, 1991). Quando há uma história de experiências de sucesso, constroem-se tanto níveis de autoconfiança elevados, como de expectativas de êxito futuras (Williams, 1991). O pensamento positivo dos atletas com autoconfiança ativa sentimentos capacitantes e a uma boa atuação. Já os pensamentos negativos de atletas pouco confiantes conduz a sentimentos negativos e a uma má exibição (Williams, 1991). Quando um atleta perde a sua autoconfiança devido a sentimentos de fracasso, pode começar a duvidar das suas capacidades (Williams, 1991). Se o atleta tiver autoconfiança, pode canalizar a sua frustração e fúria para se concentrar novamente na tarefa (Williams, 1991).

Os atletas com autoconfiança acreditam que podem atingir as suas metas e assim o demonstram (Williams, 1991). Estes atletas percecionam-se a ter êxito, apesar de estarem conscientes das suas capacidades e limitações (Williams, 1991). Assim sendo, a confiança destes atletas programa uma execução de êxito (Williams, 1991). Acreditar nas suas capacidades e em si próprio dá a liberdade para o atleta utilizar o seu talento, pois este só é capaz de realizar aquilo que acredita poder fazer (Williams, 1991). 

Vasconcelos- Raposo (1994a) refere que há uma relação acentuada entre os objetivos definidos pelos atletas e os níveis de ansiedade, motivação e autoconfiança que estes apresentam. A formulação de objetivos a curto prazo leva a que as melhorias da autoconfiança se tornem mais visíveis (Vasconcelos-Raposo, 1994a). Para Vasconcelos-Raposo (1994a), uma das mais importantes habilidades psicológicas ou mentais que um atleta pode desenvolver é a sua capacidade de formular objetivos eficazes de performance.

Para uma melhor compreensão desta competência psicológica, em termos práticos, o psicólogo deve procurar ter conhecimento das metas e objetivos que cada atleta pretende alcançar, tal como do significado pessoal atribuído ao sucesso desportivo.

Deste modo, torna-se relevante o psicólogo do desporto promover algumas estratégias junto dos atletas para que melhorem a sua autoconfiança desportiva (Viana, 1990). Relativamente a esta competência psicológica, o psicólogo deve trabalhar com o treinador no sentido deste utilizar um sistema de reforço com os seus atletas (Lázaro, et al., s.d.). O sistema de reforços positivos e negativos contribui para o desenvolvimento da autoconfiança no atleta (Lázaro, et al., s.d.). Para aumentar a autoconfiança dos atletas devem-se utilizar técnicas de visualização, formulação de objetivos e oferecer feedback adequado (Marín, 2009). Ao aumentar a autoconfiança do atleta, está-se a promover a sua autoperceção de que é capaz de executar com sucesso as tarefas que lhe são solicitadas para a sua atividade (Viana, 1990).


Neste sentido, a Escola de Afetos fornece aos atletas e clubes desportivos avaliação psicológica, apoio psicológico e intervenção psicológica em grupo.


Texto escrito por Carolina Violas, Psicóloga Clínica, Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde com uma dissertação em Psicologia do Desporto

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